Governo de Moçambique restringe redes sociais enquanto Venâncio Mondlane permanece em esconderijo e convoca protestos
As redes sociais em Moçambique foram restringidas em meio à crise eleitoral
após as eleições de Outubro, enquanto Venâncio Mondlane, um dos principais
desafiantes dos resultados, permanece escondido e convoca manifestações.
Mondlane, pastor e candidato independente que afirma ser o verdadeiro
vencedor das eleições, tem usado vídeos nas redes sociais para pedir aos seus
apoiantes que protestem contra os resultados oficiais, que deram a vitória a
Daniel Chapo, do partido governante Frelimo.
A polícia acredita que Mondlane está refugiado na África do Sul desde que
desapareceu da vida pública há 12 dias.
O candidato afirma que foi ameaçado por agentes policiais pouco tempo depois
do assassinato de dois de seus colaboradores próximos, Elvino Dias, seu
advogado, e Paulo Guambe, um oficial do partido de oposição Podemos, que o
apoiava.
De acordo com Mondlane, ele entrou em esconderijo após seu domicílio ser
cercado por policiais e ter sido alvo de gás lacrimogêneo durante protestos
realizados após os assassinatos.
Desde a divulgação dos resultados, que aconteceu na última quinta-feira, manifestações
eclodiram em várias regiões do país, e, segundo a Ordem dos Médicos de
Moçambique, pelo menos 10 pessoas foram mortas a tiros por forças de segurança
durante os protestos pós-eleitorais, enquanto dezenas sofreram ferimentos por
balas.
O comandante-geral da PRM, Bernardino Rafael, negou as acusações de
Mondlane, afirmando que a polícia teve que intervir em 58 protestos, sendo que
38 deles foram considerados “muito violentos”.
A organização de monitoramento da internet NetBlocks relatou que as restrições
ao WhatsApp, Facebook e Instagram começaram na última quinta-feira, com
interrupções de dados móveis ocorrendo logo após o dia das eleições, em 9 de
outubro.
Nos últimos dias, o acesso ao WhatsApp, por exemplo, tem sido cortado por
várias horas, impossibilitando chamadas no aplicativo.
Até o momento, o governo moçambicano não comentou oficialmente sobre as
alegações de bloqueio intencional do acesso à internet para dificultar a
coordenação dos protestos. O presidente eleito, Daniel Chapo, sucederá Filipe
Nyusi, que deixará o cargo após cumprir o limite de dois mandatos.